31 de março de 2006
posto pelo Alexandre às 00:43 0 comentários
30 de março de 2006
25 de março de 2006
a morte da arquitectura - 2
dedicado à Olívia:
Pois, continuando a conversa anterior, não é a secção áurea por si que faz com que certas relações espaciais nos pareçam mais ou menos interessantes. É sim o uso sistemático de uma escala de proporções coerente. Uma escala simples baseada na secção áurea pode ser:
quadrado • secção áurea • quadrado + secção áurea • quadrado + duas secções • etc. (qualquer número é a soma dos dois anteriores)
e usamos essa escala para compôr um edifício, em planta, cortes e alçados. Isto funciona para qualquer arquitectura que se faça - como se sabe, o Corbusier usava extensivamente a secção áurea com os tracées regulateurs, aplicados às fachadas como qualquer templo romano ou neoclássico (já vimos que no Renascimento se usava uma aproximação, e não uma verdadeira escala).
Outra noção muito interessante, ensinada pelo chefe (ele, nisto, é mesmo bom, apesar de aldrabar um bocado de vez em quando - mas como dizia o outro, com classe) é a da divisão de um segmento de recta:
• dualidade - o segmento é dividido em duas partes iguais
• diferenciação - o segmento é dividido em duas partes desiguais
• pontuação - o segmento é dividido em duas partes desiguais, em que uma é muito maior que a outra e deixa de valer por si, mas como um remate da primeira.
Exemplos disto abundam na Natureza e na arquitectura (a primeira deve muito à geometria, ou vice-versa). Uma flor é a pontuação do caule. O capitel é a pontuação da coluna, assim como o rodapé é a pontuação da parede. O umbigo diferencia o corpo humano segundo uma secção áurea. Um edifício composto por dois volumes pode ser diferenciado ou dualizado segundo uma hierarquia entre eles - um mais importante, os dois igualmente significativos, respectivamente.
E com a nossa escala, temos notas suficientes para dualizar, diferenciar e pontuar conforme aquilo que queremos transmitir com a nossa arquitectura (por isso é que ela é arte, e não obra do acaso). A arquitectura modernista, em geral, não tem pontuações - é abstracta, por isso recorre a relações entre volumes ou planos mas evita remates como rodapés ou platibandas.
(continua)
(já agora, apreciam-se comentários - isto é mais para aquilo que o Tiago queria que fosse para uma definição de arquitectura)
posto pelo Alexandre às 22:25 8 comentários
22 de março de 2006
Sobre os links aqui do lado
Já que se fazem anos, algumas notas. Normalmente, não escrevo sobre política porque estes moços aqui ao lado fazem-no muito melhor; e cada macaco no seu galho. Mas a maior parte deles não percebe nada de arquitectura, e os que percebem são furiosamente anti-liberais, ou parecem (ainda estou para ver um blog de arquitecto que não defenda a mama da revogação do 73/73). Aqui vai uma review dos blogs que linquei:
O Abrupto. O grafismo é discutível, a qualidade das imagens ranhosa, nem se percebe o que é que algumas estão lá a fazer e, pessoalmente, não tenho paciência para os poemas. Além disso, nos últimos tempos disse bem do Angelo de Sousa e arranjou aquela pepineira dos mandamentos. Mas tudo isso são pequenas objecções, porque o homem vê mais à frente quando resolve falar de política, concorde-se ou não, e para quem está fora e não pode ler o Público...
[quem me conhece pessoalmente sabe que posso estar a ser um bocadinho tendencioso]
O Espectro acabou agora, e ainda que fosse, por qualquer razão, inimigo do anterior, era outro incontornável... Só dizia mal, e muito bem. Por pouco tempo, às vezes chegava a ser hilariante e vou sentir a falta dele nas minhas raras manhãs sem patrão.
O Blasfémias era, há um ano atrás, o meu preferido. Neste momento raramente lá vou; às vezes parece-me demasiado provinciano, virado para si próprio, obcecado em provar que é de “referência” , bairrista, regionalista – tudo aspectos nada liberais... O grafismo é também muito mau, e os cartoons nem vale a pena comentar. Mas tem o João Miranda e o jcd, que geralmente salvam a festa.
O Desesperada Esperança é incrível... Será que existe mesmo alguém assim, ou é mais um Semiramis? De qualquer maneira o rapaz escreve muito bem e certeiro, e não se engasga (a não ser quando vê uma gaja, pelos vistos). E de vez em quando delicia-nos com uns posts hiper-auto-degradantes, e umas actrizes ensossas americanas.
Os Marretas são o meu blog preferido. No prisoners taken, e o humor é brejeiro sem deixar de ser inteligente, o que é raro. De vez em quando, um deles lembra-se de escrever qualquer coisa a sério. Como lá disse alguém, brilhantemente, “Tem razão e não tem piada. Logo devia estar no Abrupto”.
O Semiramis era bom, bom, e ninguem sabe o que se passou para acabar. A “menina” deve ter fomentado algumas paixões (incluindo em mim, que o diga a mana de Roma que teve que me ouvir). O único problema é que o dia de trabalho não dava para ler os posts enormes...
O Sócio Gerente de vez em quando lembra-se de acordar para a vida e mandar umas postas. É raivoso, mas aquela do “Sr Presidente, com todo o respeito vá-se foder” foi grande e valeu por tudo o que o homem há-se escrever, e por isso espero que não desista.
A Causa Liberal é daqueles que se vêm uma vez por mês, só para manter o link aceso. Não é que não seja bom, que é, apesar de não ter percebido muito bem se apoiava a Guerra do Iraque ou não, mas quem é que tem tempo para ler artigos quando é preciso numerar 200 janelas? Espero que no futuro.
O Insurgente é agora a minha referência, e deve ser o que mais visito à procura de coisas sérias. A maior parte dos articulistas é inteligente e escreve bem, junta vários bloguistas e tanto quanto me parece não gosta muito dos betinhos de direita. Além de que escreve pouco de cada vez, e nao testamentos, condiçao essencial para que eu tenha tempo de o ler.
A Rititi é bestial. E ainda por cima fala de Madrid, que é uma das cidades que gosto mais. É melodramática e incorrecta, inesquecível quando se põe a “educar o povão” sem paninhos quentes miserabilistas, que é o que abunda no nosso país.
A Rua da Judiaria é outro dos que tem que se ter tempo. Mas vale a pena, e o homem consegue falar dele próprio sem ser arrogante, uma qualidade que escasseia pela blogolandia. E quando fala dos outros, é sempre interessante.
A Arte da Fuga é a outra referência. Escrevem bem e gostam de boa música, são mais comedidos que o Insurgente em geral apesar de agora passarem por lá.
A Mão invisível, idem. E ainda por cima partilha a minha opinião sobre a Ordem e o 73/73. Só boa gente (e tem um bom grafismo).
Dos outros, ou se diz bem ou não se diz nada. Como a maior parte são meus amigos, ou me lincaram generosamente, prefiro estar calado porque aqui a minha opinião é muito mais parcial (partindo do princípio de que alguém está interessado nela de todo). O que não quer dizer que não goste das pessoas... (claro que se recomenda o FotoBen, por razões óbvias, e ainda faltam alguns, que tenho que actualizar). De resto, ao contrário da maior parte dos meus preferidos nem ligo aos direitistas emproados nem aos fricazóides de esquerda, porque tenho mais que fazer.
posto pelo Alexandre às 20:05 2 comentários
17 de março de 2006
a brincar a brincar
Aqui a santa já fez um ano em Portugal. Ainda faltam umas horas por aqui, mas como de qualquer maneira foi nada e criada em Roma, parabéns à santa.
posto pelo Alexandre às 03:32 3 comentários
a morte da arquitectura
Com a Rensacença, morreu a tradição da Antiguidade. Segundo o meu chefe, pelo menos (ele gosta de usar frases bombásticas deste género, especialmente sabendo que é um dos major players da arquitectura clássica nos EUA). O argumento é o seguinte: até ao Renascimento, o construtor era o arquitecto. Não sabia ler, mas sabia o suficiente para executar a sua profissão e em certos casos produzir obras de arte. Os edifícios eram proporcionados geometricamente, com métodos muito simples e coerentes (no clássico a secção áurea; no românico o rectângulo √2, no gótico o √3), e que correspondiam ao modo como eram construídos. Em obra, os métodos geométricos aceleravam o processo porque com meia dúzia de ferramentas simples garantia-se a beleza e unidade artística da catedral ou do templo sem precisar de medidas escritas. (já agora, existiam divisores proporcionais em Pompeia). Com o Renascimento apareceu o Homem Ilustrado, que domina todas as artes e letras. O arquitecto, que não construía, conceptualiza aquilo que vê nas ruínas em Roma e transforma-o naquilo que sabe - em números.
Isto é o que o chefe gosta de chamar, noutra das suas tiradas geniais, o analógico vs o digital. Ou seja, as proporções numéricas introduzidas pelo Palladio e amigos são uma aproximação rasca à pureza clássica e gótica (ele defende que o gótico é uma sistema ainda mais sofisticado, ainda que monótono, que o clássico). Veja-se a série de Fibonacci:
1 2 3 5 8 13 21 34 & etc
[cada número é o resultado da soma dos dois anteriores]
se dividirmos 5 por 3, igual a 1,666
se dividirmos 8 por 5, igual a 1,6
se dividirmos 13 por 8, igual a 1,625
se dividirmos 21 por 13, igual a 1,616
se dividirmos 31 por 21, igual a 1,619
Ø, a secção áurea, é quse igual a 1,618, ou seja o valor a que estes números, de uma série fixa, se aproximam. Funciona com quaisquer números iniciais - a série tende sempre para Ø.
(continua)
posto pelo Alexandre às 01:19 0 comentários
16 de março de 2006
últimas
•Sábado, depois de duas horas de discussão, fomos desopilar para uma discoteca brasileira, com umas caipirinhas miseráveis. Mas o som era bom, e deu para suar a noite toda. A secção feminina estava bem representada, e a masculina parecia toda saída da Men's Health - buffed bodies, ripped abs, ou seja com umas boas horas de ginásio em cima do lombo (eu era o único lingrinhas).
•Terça, depois do trabalho (um caos de reuniões intermináveis), passámos por aqui a chamar uma amigalhaça e depois fomos ao Lips, um bar restaurante de travestis transsexuais. Ultra-kitsh, neons, brilhantes e dourados, e noite karaoke com um jantar de turma de adolescentes imberbes, borbulhentos e virginais! E deu para rever um dos nossos amigos da viagem de Verão - mais conhecido como "give us a show, you bitch", aka pretalhão, que era o apresentador do show nessa noite. (o pior bloody mary da minha vida, grãos de pimenta do tamanho de amendoins, nem sei como é que o meu estômago se aguentou à jarda).
•Hoje, fui aprender a enriquecer com um cursito intensivo de real estate pago pelo escritório. Interessante, como já na semana passada aconteceu aqui na casa - com uma conversa com a Merril Lynch - quando se trata de carcanhol, toda a gente está atenta e faz perguntas. Para a semana há mais uma "conversa", desta vez uma mesa redonda sobre Capitalismo vs. Socialismo. nem de propósito... [estou curioso em saber a opinião de uns quantos chineses totalitários que por aqui há sobre a questão]
posto pelo Alexandre às 05:38 1 comentários
12 de março de 2006
américa
Williamsburg, comida de plástico (literalmente), a reviver os velhos tempos. Para acreditar que a mesa está posta há 200 anos.
posto pelo Alexandre às 21:44 2 comentários
10 de março de 2006
À descoberta da América
Estas fotos são do fim de semana passado, quando o escritório todo foi dois dias para a Virginia, o primeiro Estado de todos. A ideia era ver Williamsburg, capital durante mais ou menos cem anos, antes da Independência. Várias coisas tornam-na única: o facto de ser uma cidade planeada, com um esquema axial semelhante ao de Washington (ali viveu Jefferson, o presidente-arquitecto), o facto de ter sido planeada como uma comunidade fechada, reservada à elite governativa, no sec. XVIII (a plebe vivia na periferia), da grande maioria das casas ser pré-fabricada (primeiro contruía-se, depois o cliente vinha e escolhia, como num catálogo), e por último por ser, hoje, uma das poucas réstias de originalidade e beleza da arquitectura norte-americana. Graças aos Rockefellers, nos anos 20 foi objecto de um "restauro criativo" que reconstruiu mais de metade da cidade in stile e com estilo, diga-se. Tudo meticulosamente arranjado, as madeirinhas todas no sítio, as cores certas, os móveis de acordo com os inventários da época, e habitada por uma população de actores (que mora mesmo lá, nas casinhas de madeira) que durante o dia passeia de carroça, toca viola da gamba e cravo e serve nas tabernas, vestida como há duzentos anos. Um museu-vivo, uma cidade fantasma, um dos sítios mais bonitos que já vi na América. Seguem-se as fotos.
(Às vezes tive a impressão de que com as drogas certas, não é preciso muito para acreditar que se está no séc. XVIII ao passear pela única rua.)
posto pelo Alexandre às 05:54 1 comentários
9 de março de 2006
8 de março de 2006
cretinices
voltar à idade da pedra, dar graxa ao patrão, insistir em desenhar com régua e esquadro e estirador, perder horas e células nervosas a fazer e refazer as mesmas coisas trinta mil vezes porque se desenha à mão e nada bate certo, certificar-se que o parceiro do lado se apercebe disso, através de grunhidos, suspiros e aspirações de ar nevróticas, subir na carreira a puxar os outros para baixo, gostar de ser amanteigado e recompensar quem o faz, ouvir só aquilo que agrada e não o que dói e é preciso, gerir o trabalho às migalhinhas, agora faz esta linha - imprime, sobe e desce as escadas - agora põe estes armários - imprime, sobe e desce as escadas - agora este texto, etc e tal, ser picuinhas e insistir em desenhar obras de arte que só os trolhas vão ver, ter mau hálito e perder clientes, pôr toda a gente a "participar", sem hierarquia e quando se sabe que no fim quem manda é o patrão por isso é um engano e só nos faz perder tempo.
Ahhhh.... o que vale é o colo à minha espera em casa.
(soube mesmo bem)
Mas para desopilar, já se pode escrever com acentos, como deve ser. E se estou ácido, a culpa é também do melhor romance que li nos últimos tempos, e que neste momento atravessa uma fase negra, mesmo antes do fim. Mas recomenda-se, ao ponto de eu apanhar o metro que demora mais tempo só para aproveitar mais uns minutos de pure goodness antes de chegar a casa.
posto pelo Alexandre às 01:55 2 comentários
2 de março de 2006
ja chega
de postar do trabalho, sem acentos e com os coleguinhas a espreitar por detras do ombro (a minha posiçao nao permite grandes intimidades com o ecran). Por isso, a partir de segunda passo a ter net em casa, senao aqui o tasco nunca mais sai da crise - como o nosso Pai's. Ate' ja'.
posto pelo Alexandre às 15:35 2 comentários